Ulises Carrión | da série

Iniciamos hoje a série no PhD Art Blog Figuras da arte que você (provavelmente) nunca ouviu falar, mas deveria conhecer apresentando pessoas que são importantes no mundo da arte, mas que (ainda) não estão na ponta da sua língua. Para estrear a coluna escrevemos sobre o escritor/artista visual Ulises Carrión (1941, San Andres Tuxtla, Mexico - 1989, Amsterdam, Holanda).

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ULISES CARRIÓN

ULISES CARRIÓN

Ulises Carrión foi um dos mais importantes artistas conceituais mexicanos do século XX. Figura-chave na cena artística de vanguarda internacional pós-1970, Carrión foi editor, curador, teórico e escritor cujo legado é apreciado por estudiosos do conceito livro-objeto. Estudou literatura e filosofia na UNAM (Universidade Nacional do México) e em seguida publicou seus livros de contos "La muerte de miss O" (1966) e "De Alemania" (1970). Vindo de uma família de classe média sem raízes acadêmicas, Carrión ganhou uma bolsa de estudos que financiou seus estudos e viagem pela europa. Estudou línguas e literatura em Paris em 1964, na Alemanha em 1965 e em Leeds, na Inglaterra em 1972. Foi nesse período na Inglaterra que Carrión descobriu o o trabalho da editora Beau Geste Press, fundada por Felipe Ehrenberg, David Mayor, Chris Welch, e Martha Hellion. A editora publicava o trabalho visual de poetas visuais, conceituais e neo-dadaístas, muitos ligados diretamente ao movimento Fluxus. A editora utilizava materiais de baixo custo nas suas publicações, como mimeógrafos, papel jornal e grampeador - o que fascinou Carrión.

Em 1972 Carrión mudou-se para Amsterdam, Holanda, onde finalmente começou a trabalhar com artes visuais, experimentando cores, texturas, formas e sequências. Nesse mesmo ano Carrión publicou seu primeiro livro de artista "Sonnets", seguido pelos livros Arguments, About PoetryTell Me What Sort of Wall Paper Your Room Has and I'll Tell You Who You AreDancing with You and Amor, la palabra no ano seguinte, 1973. O que faz do trabalho de Carrión especial é o uso de técnicas de comunicação e distribuição sedimentando o conjunto em uma arte/produto cultural. Em seus projetos artísticos, Carrión apropriou-se dos canais de mídia televisão, o rádio e a carta, reinterpretando-os em um sentido artístico. O artista argumentava que estava usando a 'Cultura' como um conceito muito maior e mais amplo que a 'Arte'. 

Seus trabalhos originais, múltiplos e sua coleção de convites, flyers, posters e acervo do arquivo da Other Books and So Archive estão em exposição no Museo Reina Sofía, em Madrid, Espanha até o dia 10 de outubro de 2016.

 

BOOKWORK OU LIVROS DE ARTISTA

CONVITE DE ARTISTAS BRASILEIROS

ULISES CARRION

Ulises Carrión é reconhecido como um dos precursores e desenvolvedores da conceituação de 'livros de artistas' (ou originalmente 'Bookwork') na década de 1970, conforme descreveu no seu livro-manifesto The New Art of Making Books (A Nova Arte de Fazer Livros) de 1975. Carrión cunhou a definição do termo como "...books in which the book form, a coherent sequence of pages, determines conditions for reading that are intrinsic to the work (...) they are books that incorporate as a formal element the sequential nature of books and the reading process." 

Carrión parou de trabalhar com a prosa e focou cada vez mais na poesia concreta. Acreditava que era o papel dos poetas visuais de quebrar as barreiras entre a arte e o livro-objeto. O artista utilizava de recursos gramaticais, pontuações, diálogos, ritmos, poemas, palavras, repetições, sonetos, conjunções, associações e sílabas de maneira textual, visual e verbal. Ele rompe as linhas que dividem a escrita da arte e do objeto livro, fazendo-nos questionar (até hoje) como estas três colunas se entrelaçam harmonicamente. 

 

OTHER BOOKS AND SO

OTHER BOOKS AND SO

OTHER BOOKS AND SO

OTHER BOOKS AND SO

Em 1975 Ulises Carrión abriu a primeira loja de livros de artista do mundo a "Other Books and So", localizada em Amsterdam, onde promoveu o encontro, a produção, distribuição e perpetuação de livros de artistas escritos pelos seus contemporâneos. O espaço, apesar de pequeno, funcionava como um centro cultural para exposições, colaborações e performances de artistas que trabalhavam com livros de artista. Em 1978, a loja fechou e seu conceito transformou-se em um "archive", com um importante acervo de livros daquela década. Carrión afirmava que a arte 'tradicional' envolvia um grande número de especialistas para ser validada, como o galerista, o curador, o crítico de arte. Já no conceito de livro de artista, o próprio artista fazia o papel destes elementos. E por isso ele considerava o seu acervo como sendo a grande obra de arte. 

 

ARTE POR CORRESPONDÊNCIA

What is Mail Art?

Carrión trabalhou com 'Mail Art' (Arte por Correspondência) durante o final da década de 1970 e culminou no desenvolvimento de diversos projetos como Definitions of Art (1977); Erratic Mail Art System (1977), Ephemera (1977-78), Box, Boxing Boxers (1978); Artist's Postage Stamps and Cancellation Stamps (1979); Anonymous Quotations (1979); entre outros. Seu trabalho com Mail Art permitiu que pudesse desenvolver seu interesse sobre  a extensão da distribuição de arte e incorporar a distribuição como parte integral e fundamental do trabalho. Mail Art conectou artistas e automaticamente promoveu mecanismos para a comunicação e distribuição de arte. O projeto Feedback Pieces (1981), consiste em 242 respostas de artistas ao convite de participação no projeto, no qual os artistas utilizavam o próprio convite para a criação da obra de arte. 

 

ARTE CARIMBO

RUBBER STAMP ART

Carrión foi pioneiro em utilizar uma ferramenta simples e normalmente utilizado em ambientes burocráticos e formais como forma artística. Carrión convidou outros artistas a enviarem um desenho que pudesse ser transformado em um carimbo de madeira e borracha. O projeto foi denominado Cancellation Stamps Project (1979) e as contribuições dos artistas convidados foi exposta na Stempelplaats em Amsterdam. O conceito geral deste projeto era questionar a idéia de propriedade intelectual, originalidade e a importância da colaboração. 

 

A MORTE DO GALERISTA

THE DEATH OF THE ART DEALER

Ulises Carrión também utilizou o video como plataforma artística. Sua obra mais famosa nessa plataforma é o The Death of the Art Dealer (1982), feito em conjunto com Danniel Danniel. Originalmente a obra era uma performance na qual consistia no artista segurando uma mini-televisão e andando de acordo com o movimento de câmera do filme exibido nela (o personagem anda para a direita e o artista segurando a televisão também faz o mesmo movimento acompanhando-o). Toda vez em que há um corte de cena a televisão é desligada rapidamente. Carrión acreditava que o video oferecia ao artista a possibilidade dele trabalhar os frames como se fossem páginas de um livro.

Você pode ver um trecho do video aqui.

 

FOFOQUEIRO

GOSSIP AND OTHER NASTY HABITS

Em 1981, Carrión utilizou-se da fofoca como base para o seu projeto The Gossip Scandal and Good Manners Project. O projeto consistiu no artista criando e espalhando fofocas sobre si mesmo para seus amigos e monitorando a evolução da fofoca tanto em termos de abrangência quanto na qualidade da informação. O resultando do projeto foi um video e uma palestra que o artista apresentou na Universidade de Amsterdam. Este projeto novamente mostra o trabalho do artista com os conceitos e a prática de comunicação e a distribuição. 

 

Quer saber mais sobre Ulises Carrión? Use estas referências:

E-Flux

LIMA

Museo Reina Sofía

 

Fotos que ilustram o post via Archivo La Fuente, Tainá Barrionuevo, E-Flux e Google Images (resultado de busca: Ulises Carrión)

 

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